Lúbrica Poem by Cesário Verde

Lúbrica

Cobertos de folhagen, na verdura
O teu braço ao redor do meu pescoço,
O teu fato sem ter um só destroço,
O meu braço apertando-te a cintura;
Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
Sobre um banco de mármore assentados,
Na sombra dos arbustos, que abraçados
Beijarão meigamente a tua trança,
Nós havemos de estar ambos unidos,
Sem gozos sensuais, sem más ideias,
Esquecendo p'ra sempre as nossas ceias,
E a loucura dos vinhos atrevidos
Nós teremos então sobre os joelhos
Um livro que nos diga muitas cousas
Dos mistérios que estão p'ra além das lousas,
Onde havemos de entrar antes de velhos.
Outras vezes buscando distracção,
Leremos bons romances galhofeiros,
Gozaremos assim dias inteiros,
Formando unicamente um coração.
Beatos ou pagãos, vida à paxá
Nós leremos, aceita este meu voto,
O Flos-Sanctorum místico e devoto
E o laxo Cavaleiro de Faublas...

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Publicado no Diário da Tarde (Porto), 3 de Dezembro de 1873.
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